sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Almirante do Forte


Menininha. Este é o nome da "boneca" ou calunga, do Almirante do Forte. Ontem, ao visitarmos a sede deste maracatu para conversarmos com o sr. Antônio, por todos conhecido como Teté, soubemos que Menininha é a entidade "dona" do maracatu. Ela comanda a nação, determina as obrigações, guia espiritual de muitos que fazem o maracatu nação Almirante do Forte um dos grupos mais sui generis de Recife.


Que baque é esse?
 Fundado em 07 de setembro de 1941, completando portanto 70 anos, este grupo surgiu como uma discidência do Cruzeiro do Forte, maracatu de baque solto. O sr. Teté nos disse que o Almirante foi também fundado como um maracatu de baque solto e até recentemente usava no seu batuque bombo, gonguê, mineiro, tarol, surdo e cuica, este últimos instrumentos usados nestes maracatus. Quando perguntamos as razões para que houvesse a mudança de baque, o sr. Teté apenas nos disse que tocavam naturalmente pontos baseados na macumba, e que ficavam melhor no baque virado. Mas, por outro lado, não deixou de reconhecer que o baque virado, na época em que o sr Teté decidiu virar o baque, tinha"mais poder".
O Almirante do Forte faz parte de um grupo de maracatus que, a partir dos anos de 1960 , mudou seu baque, a exemplo do Cambinda Estrela e o Indiano (este último um grande maracatu do passado e que atualmente não desfila mais). Talvez essa frase do Sr. Teté explique este fenômeno da mudança de baque, mas não se pode esquecer que houve uma pressão para que os maracatus de baque solto não desfilassem pelo Recife, pois eram considerados "descaracterizados". Isto sem falar no medo que os caboclos de lança despertavam.

Comunidade e participação de jovens.
O Almirante do Forte está localizado no Bongi, e o Sr. Teté disse que sempre foi desse lugar. Ele mesmo nasceu naquela casa, e sempre viveu ali. O maracatu conta com alguns membros da comunidade em sua corte e seu batuque, e alguns membros da família também vivem intensamente o maracatu, a exemplo de alguns netos de Teté, responsáveis pela confecção de instrumentos. Mas o sr. Teté lembra de tempos atrás, em que saia no carnaval "com bem pouquinha gente e com três bombos". Hoje seu maracatu desfila com setenta afayas, que é como Teté faz questão de dizer "que é como chamam os bombos hoje". Alguns desses desfilantes vem de fora da comunidade, e o Almirante do Forte tem chamado bastante a atenção de  estrangeiros interessados pelos maracatus, e que vêem ao  Recife desfilar no carnaval. Neste último carnaval Teté nos informou que o Almirante recebeu doze franceses.
A mim, chamou muito a atenção, no dia da gravação, uma loa cantada por ele, em que afirma que é preciso deixar espaço para os moços chegarem. Fiquei pensando, naquele dia, nos profundos significados simbólicos que a loa repertoria, desde a necessidade de deixar "herdeiros" e de que o maracatu tenha prosseguimento depois que se vá, como o Sr Teté mesmo afirma, até as transformações rápidas e significativas em seus significados e modos de fazer pelos quais os maracatus nação estão passando na contemporaneidade. O Almirante do Forte tem recebido muitos jovens interessados nos maracatus, não apenas para tocarem um bombinho, mas para atuarem socialmente de outros modos. Afinal, o Almirante do Forte hoje é ponto de cultura, e há um grupo que ajuda o Sr. Teté na administração do mesmo.  Mas este é assunto para outra conversa!

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