segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Panorama das Gravações

O trabalho foi intenso mas a primeira parte das gravações foi encerrada. Do dia 28 de agosto até 14 de setembro a equipe de gravação teve uma rotina de muita correria para dar conta de registrar as loas e baques de 17 nações de maracatu. Agora resta gravar mais duas nações, Sol Nascente e Cambinda Estrela que estão previamente agendadas para dezembro. A equipe já está organizando a ficha técnica das nações gravadas com os nomes dos mestres, rainhas, presidentes e demais maracatuzeiros presentes nas gravações. O próximo passo será discutir o processo de levantamento documental dos jornais e uma discussão a respeito da metodologia e aplicação da História Oral onde iremos construir os roteiros das entrevistas, definir os entrevistados e entrevistadores. Fica neste post uma amostra do trabalho que realizamos nessas últimas semanas.

Nação Encanto da Alegria
28/08/10 15h-17h




Nação Estrela Brilhante
29/08/10 15h-18h




Nação Oxum Mirim
29/08/10 18h30-21h







Nação Linda Flor
10/09/10 15h-17h




Nação Tupinambá
10/09/10 17h30-19h30




Nação Encanto do Dendê
10/09/10 20h-22h




Nação Raízes de Pai Adão
11/09/10 19h-21h




Nação Almirante do Forte
12/09/10 15h-17h




Nação Aurora Africana
12/09/10 17h30-19h30




Nação Leão da Campina
12/09/10 20h-22h




Nação Gato Preto
13/09/10 18h-20h




Nação Axé da Lua
13/09/10 20h30-22h30




Nação Encanto do Pina
14/09/10 18h30-20h30




Nação Porto Rico
14/09/10 21h-23h




domingo, 19 de setembro de 2010

Dona Santa, rainha do Elefante.

Acervo Katarina Real (Fundação Joaquim Nabuco)

Dona Santa, grande referência na memória dos maracatuzeiros ainda na atualidade, foi rainha do Maracatu Nação Elefante. Não sabemos quando se tornou rainha, apenas que ganhou o cargo ainda mocinha, vinda do maracatu Leão Coroado, e neste posto permaneceu até sua morte, ocorrida em 1962. Seu maracatu foi objeto de estudo do maestro César Guerra Peixe quando esteve no Recife, no final dos anos 1940 e de cuja observação resultou no livro Maracatus do Recife, publicado em 1955. Quando morreu, já nonagenária, teve enterro majestoso, digna da rainha que foi. Dona Santa, cujo nome de batismo era Maria Júlia do Nascimento, é tida como o maior símbolo da cultura afro-descendente no Recife e em torno de sua vida entretecem-se lendas e mitos, memória e história. 

Fotografia de Lula Cardoso Ayres


Percorrer as várias fases e faces da vida de Dona Santa tem me permitido formular diversas questões sobre práticas e representações construídas em torno da cultura de negros e negras, suas estratégias de inserção e reconhecimento social, e a constituição de redes de solidariedade diante das investidas disciplinares que visavam a constituição de uma sociedade “mestiça” e “racialmente democrática”. Afinal, estamos falando da terra de Gilberto Freyre, e foi aqui no Recife, nesses anos de 1930, enquanto ele escrevia para os jornais e publicava livros, organizava congressos e debatia a cultura pernambucana, nordestina, e brasileira, que Dona Santa foi presa como catimbozeira, ficou viúva e assumiu o comando de seu maracatu.
Sobre a vida de Dona Santa pouco se sabe efetivamente, além de dados bastante genéricos e controversos sobre a data de seu nascimento e sobre a condição de sua família (não sabemos se eram libertos ou não, se africanos ou crioulos). Sabe-se de seu casamento com o segundo sargento da Polícia Militar, João Vitorino, e sua eleição como rainha do maracatu Leão Coroado, ainda muito moça. A partir do momento em que ficou viúva, no final da década de 1920, ao que tudo indica, Dona Santa ganhou liberdade para firmar sua autoridade como mãe-de-santo e como líder do maracatu. Este é o período em que transformações culturais de vulto ocorriam no país, acerca das percepções sobre a cultura afro-descendente. Trata-se, portanto, de pensar como ao construir sua autoridade entre os negros e negras, e os intelectuais da cidade, Dona Santa contribuiu para transformar as representações construídas em torno dos maracatus e da cultura popular de modo mais amplo.

Fotografia de Pierre Verger


Quando Dona Santa assumiu a condução do Maracatu Elefante, era uma mulher viúva, mas se inseria numa rede de sociabilidade que lhe conferia poder e legitimidade, não só por ser rainha, mas por ser mãe de santo e juremeira afamada. Com mais de sessenta anos, tinha por obrigação proteger seus filhos e filhas de santo, e assegurar ao Elefante e seus maracatuzeiros um lugar ao sol no disputado carnaval recifense. A rainha, ao que tudo indica, cumpriu muito bem seu papel demonstrando que podia não só liderar seu grupo, mas também exercer o papel de mediadora cultural, criando condições para que seu grupo se sobressaísse na cena cultural da cidade, despertando a admiração e o carinho entre intelectuais, jornalistas, fotógrafos e escritores da cidade e do resto do país. 
Fotografia de Lula Cardoso Ayres, capa da revista Contraponto

No meio intelectual recifense, Lula Cardoso Ayres e Ascenso Ferreira contribuíram sobremaneira para divulgar sua imagem, bem como para quebrar os estigmas que ainda perseguiam os maracatus. Nacionalmente, Dona Santa foi objeto de uma magnífica reportagem da revista O Cruzeiro, em 1947, ilustrada com fotografias de Pierre Verger, bem como teve uma pequena participação no filme de Alberto Cavalcanti, O canto do mar, em 1953. O maestro e compositor Guerra Peixe escolheu o Elefante como objeto de estudo, e mais uma vez a rainha foi celebrada nas páginas de Maracatus do Recife, publicado em 1955. Como resultado dessa popularidade, encontramos invariavelmente o maracatu Elefante se apresentando em quase todos os eventos em que autoridades ou celebridades visitavam o Recife entre as décadas de 1940 a 1960.
Dona Santa consolidou fama como rainha e matriarca dos negros e negras no Recife. Percorrer as notícias publicadas nos jornais no período comprova que a rainha solidificou uma imagem de poderosa sacerdotisa dos orixás, além, evidentemente, de juremeira. Sua autoridade entre os maracatuzeiros, conforme algumas reportagens de jornal, era inconteste. Conta Guerra Peixe que a rainha não precisava falar muito para manifestar seu desagrado diante de comportamentos que considerava indevido. Dona de um olhar penetrante, uma mirada bastava para que até o mais valente dos homens se calasse envergonhado do que tivesse feito. Possuidora de garbo e majestade, Dona Santa sempre desfilava no carnaval conduzindo seu maracatu desde Ponto de Parada, na zona norte da cidade onde se encontrava a sede, até as ruas centrais, apesar de sua avançada idade. E enquanto desfilava agraciava seus “súditos” com as bênçãos de seu espadim e cetro. Dona Santa só teria deixado de desfilar em duas únicas ocasiões: a morte de seu irmão, quando ainda era jovem, e do marido Vitorino.  

Acervo do Museu da Cidade do Recife


Adentrando os anos cinqüenta, no entanto, Dona Santa já octogenária aceitou a oferta do Prefeito Pélopidas e passou a desfilar nos carnavais em um jeep. Mesmo assim, não perdeu o controle sobre seu maracatu até a sua morte, momento que trazia muita apreensão a todos. Desde os anos 1940 encontram-se pelas páginas dos jornais recifenses reportagens que prenunciam a morte da rainha.  Ao final do ano de 1955 a notícia de sua morte correu a cidade. O prefeito Pelópidas Silveira teria telegrafado a sua família oferecendo pêsames, bem como auxílio financeiro para a realização do enterro. Mas quem morrera tinha sido uma princesa. Dona Santa teria rido muito de sua “morte” porque assim sabia como esta seria recebida pela cidade, e não recusou a oferta do prefeito para o enterro da princesa!

Acervo do Museu do Folclore (RJ)


Apesar de sua grande disposição em viver, Dona Santa preocupava-se com o que aconteceria com o Elefante quando partisse. Não tinha descendentes diretos, e teria decidido que quando a morte a levasse, o maracatu também deveria deixar de desfilar. Esta questão é muito controversa na historiografia, e já provocou grandes debates e contendas calorosas sobre as razões da rainha. Há quem diga que sua decisão se apoiaria em antigas tradições africanas, conforme defendeu o jornalista Paulo Viana, que afirmava ser a rainha descendente de antigos reis, e com ela morria um antigo reinado. Mas houve quem quisesse ocupar seu lugar! Sua filha adotiva, Antonia, declarou aos jornais, que continuaria com a tradição. Mas sofreu tamanha oposição daqueles que pensavam que o maracatu também deveria deixar de existir, que efetivamente o Elefante não mais saiu às ruas. Foi para o museu!

domingo, 12 de setembro de 2010

Omedé.

As crianças representam a esperança de continuidade, e entre os maracatus nação do Recife tal assertiva pode ser observada em todos os batuques que visitamos, nos quais meninos e meninas observam, aprendem a tocar, convivem com os valores e tradições.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Agenda das gravações

Gravações feitas:
28/08/10: Nação Encanto da Alegria
29/08/10: Nação Estrela Brilhante, Nação Oxum Mirim
30/08/10: Nação Leão de Judá
01/09/10: Nação Estrela Dalva
02/09/10: Nação de Luanda

Gravações a serem realizadas:

10/09/10: Nação Encanto do Dendê, Nação Linda Flor, Nação Tupinambá
11/09/10: Raízes de Pai Adão, Sol Nascente
12/09/10: Nação Almirante do Forte, Nação Aurora Africana, Nação Leão da Campina
13/09/10: Nação Gato Preto, Nação Axé da Lua
14/09/10: Nação Porto Rico, Nação Encanto do Pina

Início das gravações nas nações de maracatu

Nessa semana que passou realizamos as primeiras gravações nas nações de maracatu. A equipe de pesquisa realizou uma parceria com o músico, pesquisador e produtor musical Alfredo Bello, que possui vasta experiência em gravações de grupos de cultura tradicional. As gravações foram realizadas por meio de uma unidade móvel de estúdio com equipamento essencial e necessário para captar o som dos batuques e loas com qualidade. Nossa intenção é visitar 18 nações de maracatus e registrar seus baques e loas.Cada nação teve a oportunidade de gravar entre 10 a 15 loas sendo que uma delas será escolhida para compor o CD com a coletânea dos maracatus-nação de Pernambuco a ser lançado após o término da pesquisa. Cada nação também irá receber o material completo resultante do dia de gravação para que possam, caso queiram, produzir um CD a partir disso.

No dia 28 de agosto no período da tarde fizemos a gravação da nação Encanto da Alegria, no bairro da Mangabeira. Os maracatuzeiros nos aguardavam em peso para o início do trabalho. Assim que o equipamento foi montado o batuque do Encanto da Alegria fez um arrasto da sede da nação até a frente da sede do Mangabeira Futebol Clube, onde seria realizada a gravação. Sob a regência do mestre Toinho, mais antigo mestre de maracatu-nação em atividade, quinze batuqueiros tocaram e cantaram as tradicionais loas de maracatu. A batucada juntou muitos vizinhos e curiosos ao redor além de outros maracatuzeiros que dançavam e ajudavam a cantar as loas, como Clóvis, o presidente da nação.






No dia seguinte, 29 de agosto, a tarde gravamos o baque da Nação Estrela Brilhante de Recife. A gravação foi realizada no pátio da sede da nação, localizada no Alto Zé do Pinho. Na sede fomos recebidos pela rainha Marivalda, mestre Walter e mais alguns maracatuzeiros. Após algumas subidas e descidas de ladeiras o equipamento estava pronto e a gravação poderia iniciar. O batuque realizou um breve aquecimento antes da gravação começar, aquecimento este que já empolgou as pessoas que assitiam tudo. Quando tudo já estava pronto a rainha Marivalda fez um breve discurso, agradeceu a presença de todos e o trabalho começou. Os dezenove batuqueiros tocavam e cantavam atentos aos comandos de mestre Walter. Ao fim dos trabalhos, mestre Walter dedica a última loa à memória do falecido mestre Luís de França, mestre do antigo Leão Coroado. Ele diz que a referida loa era a primeira que Luís de França puxava e também havia sido a primeira que Walter havia aprendido. Com o término dessa loa a equipe de pesquisa recolheu seu material, mas a festa não se encerrou na sede do Estrela Brilhante já que os batuqueiros, mesmo sem a nossa presença, continuaram batucando.






Ainda no dia 29 no período da noite fomos até Afogados para realizar a gravação das loas da nação Oxum Mirim. Essa foi a nação que apresentou o maior número de batuqueiros para a gravação, ao todo fomos recebidos por trinta batuqueiros. A juventude do batuque também nos chamou a atenção. A rainha Carmelita, mestre Levi e outros maracatuzeiros também compareceram em peso. Os pesquisadores da equipe aproveitaram o tempo em que o equipamento de gravação era montado para conversar com os maracatuzeiros, fotografar o local e observar a dinâmica do grupo. Por volta das 19 horas a gravação começou e só se encerrou às 21h30. Como em todas as nações que visitamos até agora, não faltou empolgação e animação por parte dos batuqueiros, maracatuzeiros e curiosos que assistiam o evento. O trabalho foi longo mas valeu a pena, mais uma nação teve suas loas registradas.






Na mesma semana gravamos também as nações Leão de Judá, Estrela Dalva e Nação de Luanda.